A mesma criança, um novo aluno
Não se trata de fornecer kits instrucionais aos professores e alunos, a exemplo do que ocorre no sistema de ensino fundamental norte-americano. As próprias crianças podem montar os sensores; aprender sobre suas limitações e usos - “calibrando-os”; para então colher os dados, interpretá-los, compará-los com outras fontes (os textos didáticos, os colegas de turma, o professor, a Internet ou até seus pais). No final as crianças sistematizam suas anotações e a vivência adquirida em textos individuais e/ou grupais que podem ser publicados na Internet - como fazemos com nossas próprias publicações jornalísticas e científicas.
Uma única experiência completa deste tipo já implica em ganhos enormes para o aluno. Há a manipulação do mundo físico, a construções de ferramentas para interferir e compreender o meio-ambiente, a sistematização de resultados, etc... Mesmo que o trabalho gerado não seja científico, mas artístico, por exemplo, a análise crítica e o processo formador estarão ali presentes.
Por exemplo, normalmente ensinamos a importância da reciclagem do lixo para o bem estar da sociedade através de exposições (aulas), exemplos e atividades comunitárias. Poderíamos ir muito além deste processo de convencimento para a construção de um “senso-comum” se utilizarmos experiências concretas de medição, simulação e construção de aparelhos, pois a criança construiria sua opinião a partir das suas próprias conclusões, partindo da sua realidade; somando seu conhecimento aos textos e exemplos escolhidos pela escola, ao material midiático que ela mesma pesquisa e às experiências, discussões e atividades orientadas que realiza. O conhecimento adquirido desta forma não é “senso-comum”, pois possui base social e crítica. A base científica que ela utilizou compõem outro plano: serviu de “tutor”, guiando-a na escolha dos argumentos e hipóteses que lhe permitiram construir sua opinião.
É curioso trabalhar desta forma, pois o debate entre ensino tradicional e vertentes progressistas, e entre conhecimento adquirido e construído, é inevitável. Por exemplo, ao final de um processo deste tipo uma criança poderia levantar a tese de que não é ambientalmente sustentável utilizarmos garrafas de plástico para armazenamento de bebidas, mesmo que isso seja economicamente justificável e permita a subsistência de uma importante categoria de trabalhadores informais. Para apoiar sua tese, esta criança poderia utilizar dados reais sobre produção de garrafas de plástico e cruzar com a capacidade estimada de reciclagem. Também poderia contar o número de usinas de reciclagem particulares, públicas e cooperadas para concluir que elas não conseguem retirar da natureza uma parte significativa do que é descartado. Para finalizar, esta criança poderia consultar a experiência de outros países reconhecidos como ambientalmente responsáveis, constatando que neles já há muito tempo só se utilizam recipientes de vidro para armazenamento de bebida.
Diante do orgulho nacional instituído de sermos o maior reciclador de latas de alumínio e, provavelmente, de garrafas de plástico do mundo, como ficará o coração desta criança?
Não é qualquer educação que muda uma sociedade, e replicar o status quo não é ensinar. A mudança de postura frente ao conhecimento é fundamental e permite mudanças mais significas na maneira como ensinamos, aprendemos, avaliamos e utilizamos o material didático e a tecnologia. Diante da possibilidade de medir o mundo, oferecida pelo laptop da OLPC, a escola tem duas alternativas: permitir que o laboratório ocorra com todas as suas conseqüências, deixando que o conceito “contamine” outros aspectos do seu currículo/projeto pedagógico; ou negar esta possibilidade aos seus alunos, ignorando todo o seu potencial e transformando o laptop num caderno eletrônico ou, pior, num material instrucional paradidático - como é o conceito e parece ser o destino dos seus concorrentes diretos, como o Classmate da Intel.
Paulo Freire, nosso educador maior, morreu ignorado pela grande mídia, que nunca quis respaldar sua pedagogia emancipadora. O que dizer sobre o destino de um projeto que universaliza o seu legado?
Uma única experiência completa deste tipo já implica em ganhos enormes para o aluno. Há a manipulação do mundo físico, a construções de ferramentas para interferir e compreender o meio-ambiente, a sistematização de resultados, etc... Mesmo que o trabalho gerado não seja científico, mas artístico, por exemplo, a análise crítica e o processo formador estarão ali presentes.
Por exemplo, normalmente ensinamos a importância da reciclagem do lixo para o bem estar da sociedade através de exposições (aulas), exemplos e atividades comunitárias. Poderíamos ir muito além deste processo de convencimento para a construção de um “senso-comum” se utilizarmos experiências concretas de medição, simulação e construção de aparelhos, pois a criança construiria sua opinião a partir das suas próprias conclusões, partindo da sua realidade; somando seu conhecimento aos textos e exemplos escolhidos pela escola, ao material midiático que ela mesma pesquisa e às experiências, discussões e atividades orientadas que realiza. O conhecimento adquirido desta forma não é “senso-comum”, pois possui base social e crítica. A base científica que ela utilizou compõem outro plano: serviu de “tutor”, guiando-a na escolha dos argumentos e hipóteses que lhe permitiram construir sua opinião.
É curioso trabalhar desta forma, pois o debate entre ensino tradicional e vertentes progressistas, e entre conhecimento adquirido e construído, é inevitável. Por exemplo, ao final de um processo deste tipo uma criança poderia levantar a tese de que não é ambientalmente sustentável utilizarmos garrafas de plástico para armazenamento de bebidas, mesmo que isso seja economicamente justificável e permita a subsistência de uma importante categoria de trabalhadores informais. Para apoiar sua tese, esta criança poderia utilizar dados reais sobre produção de garrafas de plástico e cruzar com a capacidade estimada de reciclagem. Também poderia contar o número de usinas de reciclagem particulares, públicas e cooperadas para concluir que elas não conseguem retirar da natureza uma parte significativa do que é descartado. Para finalizar, esta criança poderia consultar a experiência de outros países reconhecidos como ambientalmente responsáveis, constatando que neles já há muito tempo só se utilizam recipientes de vidro para armazenamento de bebida.
Diante do orgulho nacional instituído de sermos o maior reciclador de latas de alumínio e, provavelmente, de garrafas de plástico do mundo, como ficará o coração desta criança?
Não é qualquer educação que muda uma sociedade, e replicar o status quo não é ensinar. A mudança de postura frente ao conhecimento é fundamental e permite mudanças mais significas na maneira como ensinamos, aprendemos, avaliamos e utilizamos o material didático e a tecnologia. Diante da possibilidade de medir o mundo, oferecida pelo laptop da OLPC, a escola tem duas alternativas: permitir que o laboratório ocorra com todas as suas conseqüências, deixando que o conceito “contamine” outros aspectos do seu currículo/projeto pedagógico; ou negar esta possibilidade aos seus alunos, ignorando todo o seu potencial e transformando o laptop num caderno eletrônico ou, pior, num material instrucional paradidático - como é o conceito e parece ser o destino dos seus concorrentes diretos, como o Classmate da Intel.
Paulo Freire, nosso educador maior, morreu ignorado pela grande mídia, que nunca quis respaldar sua pedagogia emancipadora. O que dizer sobre o destino de um projeto que universaliza o seu legado?
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